Instituto Nacional de Economia Circular – INEC

Cidades Circulares: o modelo regenerativo que pode redefinir o futuro urbano

Em meio à pressão por novos caminhos de desenvolvimento, a circularidade urbana surge como estratégia integrada para transformar as cidades


Por Diego Conti*



Em um mundo que busca soluções urgentes para os desafios ambientais e a escassez de recursos, a economia circular emerge como um paradigma promissor, não apenas para empresas e indústrias, mas, sobretudo, para transformar as cidades. 


Diferente do modelo linear de produção e consumo, que culmina no descarte, o modelo circular propõe um sistema regenerativo em que o valor dos recursos, produtos e materiais é maximizado, mantendo-os em uso pelo maior tempo possível e minimizando a geração de resíduos.


A literatura científica vem destacando, com cada vez mais ênfase, o papel estratégico das cidades nesse processo. Mais do que centros de consumo, os territórios urbanos são ecossistemas complexos capazes de integrar fluxos de materiais, energia, pessoas e resíduos de forma inteligente. 


Essa lógica dá origem ao conceito de Cidades Circulares, que não se limitam a adaptar práticas empresariais, mas propõem uma reconfiguração sistêmica, do urbanismo às políticas públicas, da infraestrutura ao comportamento coletivo.



As cidades e a transição circular


Segundo estimativas da ONU-Habitat, as cidades consomem mais de 75% dos recursos naturais extraídos globalmente e geram cerca de 50% dos resíduos sólidos do planeta. Isso as coloca no epicentro da transição para modelos regenerativos. 


Adotar a circularidade nas cidades significa, por exemplo, replanejar sistemas de transporte para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, promover edifícios inteligentes que economizam energia e água, criar redes de simbiose industrial onde resíduos de uma atividade tornam-se insumos para outra, e fomentar mercados locais baseados em reuso e compartilhamento.


Nesse cenário, a inovação tecnológica e a colaboração entre diferentes setores ganham força. Clusters setoriais que envolvem empresas, universidades, cooperativas e centros de pesquisa podem acelerar o desenvolvimento de soluções circulares, como materiais biodegradáveis, plataformas digitais de logística reversa ou práticas de agricultura urbana regenerativa. 


A cadeia de suprimentos também passa a ser redesenhada com foco na durabilidade, reparabilidade e reaproveitamento dos produtos, ampliando os ciclos de vida e reduzindo o desperdício.



Tecnologia e cultura para viabilizar a circularidade 


O investimento em ciência, tecnologia e digitalização urbana é outro vetor essencial dessa transição. 


O uso de sensores inteligentes na gestão de resíduos, o monitoramento em tempo real do uso de energia ou a rastreabilidade de materiais são exemplos de como a Internet das Coisas (IoT) pode apoiar decisões mais sustentáveis nas cidades. 


Além disso, o surgimento de modelos de negócios como o turismo circular, a moda circular ou o design regenerativo mostra que a inovação circular vai além da técnica, sendo também cultural e social.



Experiências circulares que já estão transformando cidades

Embora ainda haja desafios para a implementação em larga escala, algumas cidades ao redor do mundo já trilham esse caminho. 


Amsterdã foi pioneira na adoção de uma estratégia oficial de economia circular, com políticas ambiciosas de reutilização na construção civil. 


Toronto investe em hubs de circularidade com logística reversa comunitária


Em São Paulo, iniciativas locais em bairros periféricos mostram como a circularidade pode impulsionar economia solidária, hortas urbanas e programas de recondicionamento de móveis e roupas.



Mais sustentabilidade para as cidades

A cidade é justamente o espaço onde os princípios da circularidade podem se materializar no dia a dia, deixando de ser apenas uma proposta teórica para transformar hábitos, formas de consumo e dinâmicas sociais. 


Para que esse futuro se concretize, é fundamental o engajamento conjunto entre gestores públicos, planejadores urbanos, empresas, centros de pesquisa e a sociedade civil.


Mais do que um modismo sustentável, a economia circular representa um redesenho profundo da vida urbana. Ao reorganizar fluxos, valorizar recursos locais e promover uma cultura de regeneração, as cidades têm a oportunidade de liderar uma mudança real, mais resiliente, inclusiva e próspera.




*Diego Conti é empreendedor, pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da PUC/Campinas


Foto de abertura: Tomaz Silva /Agência Brasil

Facebook
LinkedIn
X
WhatsApp
Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Tags